domingo, 26 de fevereiro de 2012

Uruaçu faz Carnaval regado a música sertaneja e boate

Dá pra ver e sentir a animação dos foliões nas "boates" de Uruaçu
Passada a euforia da folia de Momo, com o Carnaval dos Amigos, em Goiânia, e o retorno dos blocos das marchinhas em várias capitais do Brasil, chega o momento de algumas reflexões sobre o lado que ainda preocupa dessa festa. Sou chamado a essa análise pelo e-mail que recebi da amiga e colega de escola desde os tempos do Jardim de Infância Maria Selma Ávila Santos, a Selminha sempre tão alegre e simpática.
A preocupação dela está centrada no que virou o Carnaval de Uruaçu nos últimos anos, estimulado pelos atrativos do lago da Serra da Mesa a apenas 240 quilômetros de Brasília e 270 quilômetros de Goiânia. A festa cresceu, a cidade fica lotada, os hotéis faturam alto, o comércio lucra e até mesmo o cidadão comum ganha dinheiro alugando suas casas para foliões-turistas.
Até aí tudo bem. Nada contra a exploração de uma festa tradicional para atrair turistas, gerar empregos e movimentar a economia da cidade. A preocupação começa quando no convite do Carnaval de Uruaçu está estampada até apresentação de dupla sertaneja (veja o convite abaixo). E aumenta quando ficamos sabendo que os dois principais pólos da festa à noite são duas grandes boates, com capacidade para 1.800 pessoas, uma, e outra que chegou a abrigar cerca de 400 pessoas por noite.
Aí o leitor desse cantinho cultural, jornalístico e de lazer pergunta: o que uma boate tem a ver com o Carnaval? Nada, lógico. Absolutamente nada! Muito menos a música que toca nesses cinco dias de festa: eletrônica e sertaneja. Nem o axé toca mais. Até o axé, que já não tinha muito a ver com a Folia de Momo, foi abolido das noites carnavalescas da minha querida e saudosa Uruaçu. Marchinha, frevo e samba, então... Se tocar esses ritmos, o DJ apanha do “povão”.
Selminha está indignada, e com razão! Os organizadores da festa atraem uma multidão para a cidade – com todas as conseqüências e riscos que isso representa – para transformar o Carnaval nessa palhaçada. Uma multidão que não traz nada do espírito carnavalesco – aquele da alegria, das fantasias bem humoradas, dos enfeites de rua e dos salões, do confete e da serpentina.
Vem com a multidão tresloucada que foge dos grandes centros o que tem de mais distante do espírito carnavalesco: pouca – e às vezes, nenhuma – roupa, excesso de bebidas alcoólicas e muita droga. Os riscos de violência aumentam e o desrespeito à vida cultural e tradicional da cidade salta aos olhos.
Não se trata de uma visão moralista e nem meramente saudosista. Até porque festa nesse estilo pode ser realizada em outras datas, durante o ano, em grandes centros e nas cidades do interior. Nada contra. Agora, vamos respeitar e preservar a cultura, o espírito carnavalesco, a tradição dos blocos de marchinhas, frevos e sambas, que saem às ruas regados a muita alegria, ingenuidade e brincadeiras.
Uruaçu tem um belo Lago, falta o verdadeiro Carnaval
Essa mesma distorção está acontecendo em várias cidades do interior. Meus amigos Iliomar e Jorginho dizem que o som do Carnaval nas cidades do interior de Goiás é música sertaneja e eletrônica. Quando muito, aparece uma banda ou uma cantora de Axé, no estilo Cláudia Leite ou Ivete Sangalo.
Isso é navegar na contramão do que está acontecendo em várias capitais do país, em que os blocos estão voltando às ruas, carregados de alegria, fantasias criativas, refrãos espirituosos e letras de músicas carnavalescas baseadas na crítica do cotidiano e muita ironia.
As prefeituras dessas cidades podem encontrar alternativas a esse modelito chinfrim de festa, que pode até ser muito alegre e lucrativa, mas não é Carnaval. O que está acontecendo em alguns centros urbanos é o investimento dos administradores numa festa verdadeiramente carnavalesca. O resgate do espírito do Carnaval está gerando empregos e renda. Basta ter criatividade.
Selminha, obrigado pelo alerta. Vamos trabalhar para que em 2013 aconteça alguma evolução, mínima que seja. Uruaçu merece. E o Carnaval brasileiro, também. 
Elton Medeiros já  temia pelo Carnaval por causa dos novos rumos das escolas de samba, imaginem se ele conhecer o carnaval-boate de Uruaçu.


2 comentários:

  1. O poder publico Uruaçuense executivo, legislativo, judiciário e ministério publico precisam adotar o princípio do desenvolvimento e crescimento sustentáveis. Atrair uma multidão de turistas sem a devida infraestrutura de acomodação, segurança e orientação é uma perigosa estratégia para as vidas humanas e para o meio ambiente. É aquela história do imediatismo... paga-se um preço muito alto. Italo Campos - Vitória-ES

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  2. Minha prima, Solma Vidal, postou a seguinte comentário lá no meu Facebook:

    "APLAUSOS A VOCÊ ! É ISSO AÍ".

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