sexta-feira, 16 de março de 2012

A Justiça e o Samba itinerantes de Gláucia Foley

Juíza Gláucia recebe o prêmio Innovare, ao lado de Márcio Thomaz Bastos
A arte de cantar samba entrou na vida de Gláucia Falsarella Foley muito cedo. O sonho de fazer Justiça veio um pouco depois, mas de maneira segura e significativa - foi dela, como juíza do TJDF, a ideia de implantar a Justiça Itinerante em Brasília, que depois iria evoluir para a Justiça Comunitária e se multiplicar para outras regiões do país. Em ambas as vocações, Gláucia sempre mostrou talento, dedicação e sabedoria.
Na música, principalmente no samba, teve o apoio e o estímulo do pai, que, ao criar seu próprio boteco na cidade de Passa Quatro (MG), reservou um cantinho, com microfone e violão, para Gláucia cantar. Daí para as rodas de samba, botecos da cidade natal e de Brasília, posteriormente, foi um pulo.
Como juíza, ficou conhecida por dirigir o projeto de Justiça Itinerante, graças à sua vocação democrática e à vontade de fazer chegar às comunidades menos favorecidas os instrumentos da Justiça. O projeto cresceu e fez brotar uma ideia ainda mais interessante: capacitar o próprio cidadão para buscar consenso entre as partes. Nascia, assim, a Justiça Comunitária que depois seria exportada para outros estados, inclusive para as favelas onde foram implantadas as Unidades de Polícia Pacificadoras, no Rio de Janeiro.

Em Brasília, Gláucia encontrou um campo fértil junto aos sambistas da ARUC – a escola tantas vezes campeã do Carnaval de Brasília – e aos chorões da cidade, como Evandro Barcellos, também sambista e multi-instrumentista, que convenceu a juíza-cantora a gravar o seu primeiro CD.
Gravar o disco Meu Canto foi um passo importante. Fez brotar outro talento de Gláucia Foley: o de garimpeira de canções pouco conhecidas da Música Popular Brasileira. O CD resgata, por exemplo, Rio Seco, uma bela canção que foi gravada na voz de Elizeth Cardoso, composição de Romildo Souza Bastos e Toninho Nascimento. O repertório é de excelente qualidade, passando por Nei Lopes, dona Ivone Lara, Cartola, Elton Medeiros, Paulo César Pinheiro, Jacob do Bandolim e tantos outros.
A voz de Gláucia é suave, intimista, não arrisca a enfrentar a grandeza da voz de uma Elizeth Cardoso, dona Ivone Lara, Beth Carvalho ou Clara Nunes. Mas coloca a voz com muita precisão, o que dá às interpretações uma personalidade própria, valorizando as melodias e as inflexões.
Se algum dia na minha vida, que Deus me livre e guarde, vier a cometer algum delito, espero cair nas garras da juíza-cantora. Quero chegar lá com um violão nas costas, um pandeiro debaixo do braço e um cavaquinho amarrado na cintura. Vou ficar calado e aguardarei humildemente que ela decrete a sentença.
Depois – se for possível, claro –, vamos pra um barzinho cantar samba...

Nenhum comentário:

Postar um comentário