sexta-feira, 30 de março de 2012

O trânsito nosso de cada dia nos dai hoje; amanhã, não


Final de tarde em Brasília, pelas lentes de Ronaldo Silva
Brasília tem um céu lindo, um final de tarde que inspira os poetas. Já publiquei várias fotos aqui mostrando as belezas da nossa cidade, com suas flores do cerrado, final de tarde e alvorecer que mudam de acordo com as estações do ano.
Mas o trânsito está fazendo desaparecer essa beleza. O brasiliense já não aguenta mais tantos engarrafamentos provocados pelo excesso de carros nas ruas da cidade. O fotógrafo Ronaldo Silva, nosso Ferreirinha já tão conhecido aqui no blog, registrou um desses terríveis momentos do nosso dia-a-dia, na Estrada Parque Guará (EPGU), no sentido Plano Piloto ao Guará, em frente ao Zoológico de Brasília.
O brasiliense, mesmo quem mora perto do trabalho, está deixando de ir almoçar em casa – o que é um hábito saudável e sinônimo de qualidade de vida – por causa do trânsito, principalmente nos acessos às superquadras, tesourinhas e pistas que passam por baixo dos três eixos norte e sul.
Para completar o caos, Brasília tem o maior número de manifestações por metro quadrado do mundo. Não apenas os protestantes que vêm de fora, mas também os daqui adoram agregar aos seus movimentos um engarrafamento de trânsito e a consequente irritação dos transeuntes.
Brasília ainda tem um transporte público de baixa qualidade, o que faz aumentar o número de pessoas que preferem enfrentar o trânsito engarrafado em seus próprios veículos, com ar condicionado e música. A maioria dos carros particulares circula com apenas uma pessoa no interior, quando muito, com duas.
São as consequências da expansão da indústria automobilística, com financiamentos fáceis e baixos investimentos em transportes de massa, como metrô e trem, por exemplo. Desde Juscelino, a opção foi preparar o Brasil pra andar de quatro rodas. Agora, cá estamos nós, de quatro, a sofrer mazelas de um trânsito que a cada dia se torna mais insuportável.
O remédio é fazer poesia. Dormir e esperar que tudo não tenha passado de um pesadelo.

Sinais trocados
José Carlos Camapum Barroso

Paz em trânsito
Quando transito
Tranquilo pelos
Meus sonhos
Desengarrafados
De ansiedades

Paz no trânsito
Quando tranquila
Dorme a cidade
Na madrugada
De ruas enluaradas
E sinais vazios

Transito em paz
Até o amanhecer
Quando o sonho,
Então, se desfaz
Em pesadelos reais
Até o adormecer...

2 comentários:

  1. É incrível como, mesmo sabendo dos malefícios que o trânsito engarrafado nos causa, continuamos a produzir carros e investir pouco em transporte de massa. É a lógica perversa, inconsequente, do mercado capitalista para o qual o que importa é o lucro: o resto é que se dane! E nós, impotentes, sem poder nos livrarmos das caixas de latas deslizantes,onde trafegamos sozinhos, em marcha lentíssima, na cidade, ou velocidades suicidas, nas estradas...e durma-se com um buzinaço desses!!!

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    1. O Trânsito de automóveis de uma sociedade reflete o que ela é. O individualismo, a arrogância (eu, meu carro e dane-se o resto) que são a tônica de nosso mundo reflete-se na irracionalidade do trânsito. Mas, se há uma consolação ( e sempre há!)a arte está aí para mostrarque háa beleza mesmo no caos. Parabéns pela bela foto e pela bela poesia.
      Melissa

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