Hoje é Dia Nacional da Poesia. Uma homenagem aos poetas brasileiros por meio de Castro Alves, que nasceu no dia 14 de março de 1847 e completaria hoje 165 anos de idade. Escolha mais do que justa. Castro Alves deu voz aos escravos, que não tinham nem o direito de gemer suas dores físicas, quanto mais demonstrar o sofrimento que traziam na alma diante de tanta humilhação. Muito menos ainda podiam sonhar com a liberdade que lhes fora roubada pelos caçadores de escravos, invasores de um continente em que homens, mulheres e crianças viviam livres.
O poeta chileno Pablo Neruda, com todo o seu talento e sensibilidade, percebeu a riqueza e a grandeza dos versos do poeta brasileiro. Dedicou a ele uma poesia de rara beleza, chamada Castro Alves do Brasil, no livro Canto Geral. Diz que nosso poeta cantou para a flor, cujas pétalas não tinham orvalho; para águas (negras) que não tinham palavras, como normalmente as têm quando, em formosura, se chocam com as pedras; para olhos que viram a morte; para o amor, mas, por trás desse amor, ardiam os martírios; e para uma primavera salpicada de sangue.
A escolha da data de nascimento de Castro Alves para homenagear a poesia nacional tem a força de um verso arrancado da alma brasileira. Estamos todos nós, brasileiros, representados neste dia de hoje – pela grandeza do representante, a beleza da poesia que elaborou e a pureza de uma alma que encantou o mundo. Castro Alves deu à poesia nacional a cara e a dimensão do Brasil: um país continental em forma de coração.
Falar em poesia no dia de hoje é falar em Castro Alves. Uma boa maneira de comemorar essa data é lendo a poesia de Pablo Neruda em homenagem ao nosso poeta. Depois ouvir Navio Negreiro, na voz bela de Paulo Autran, com imagens do filme de Steve Spielberg, Amistad, no vídeo postado abaixo. Aí, sim, podemos dormir em paz, sonhar com os poetas, imaginar a poesia brasileira percorrendo nossos sonhos e, por fim, acordar amanhã livres, graças a uma liberdade conquistada por muita luta, suor, sangue e versos como os de Castro Alves.
Castro Alves do Brasil
Pablo Neruda
Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
Para a flor cantaste? Para a água
cuja formosura diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos para o perfil recortado
da que então amaste? Para a primavera?
Sim, mas aquela pétalas não tinham orvalho,
aquelas águas negras não tinham palavras,
aqueles olhos eram os que viram a morte,
ardiam ainda os martírios por detrás do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.
- Cantei para os escravos, eles sobre os navios
como um cacho escuro da árvore da ira,
viajaram, e no porto se dessangrou o navio
deixando-nos o peso de um sangue roubado.
- Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado de tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os dirigentes de trevas.
- Cada rosa tinha um morto nas raízes.
A luz, a noite, o céu, cobriam-se de pranto,
os olhos apartavam-se das mãos feridas
e era a minha voz a única que enchia o silêncio.
- Eu quis que do homem nos salvássemos,
eu cria que a rota passasse pelo homem,
e que daí tinha de sair o destino.
Cantei para aqueles que não tinham voz.
Minha voz bateu em portas até então fechadas
Para que, combatendo, a liberdade entrasse.
Castro Alves do Brasil, hoje que teu livro puro
torna a nascer para a terra livre,
deixam-me a mim, poeta da nossa América,
coroar a tua cabeça com os louros do povo.
Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar.
Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
Para a flor cantaste? Para a água
cuja formosura diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos para o perfil recortado
da que então amaste? Para a primavera?
Sim, mas aquela pétalas não tinham orvalho,
aquelas águas negras não tinham palavras,
aqueles olhos eram os que viram a morte,
ardiam ainda os martírios por detrás do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.
- Cantei para os escravos, eles sobre os navios
como um cacho escuro da árvore da ira,
viajaram, e no porto se dessangrou o navio
deixando-nos o peso de um sangue roubado.
- Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado de tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os dirigentes de trevas.
- Cada rosa tinha um morto nas raízes.
A luz, a noite, o céu, cobriam-se de pranto,
os olhos apartavam-se das mãos feridas
e era a minha voz a única que enchia o silêncio.
- Eu quis que do homem nos salvássemos,
eu cria que a rota passasse pelo homem,
e que daí tinha de sair o destino.
Cantei para aqueles que não tinham voz.
Minha voz bateu em portas até então fechadas
Para que, combatendo, a liberdade entrasse.
Castro Alves do Brasil, hoje que teu livro puro
torna a nascer para a terra livre,
deixam-me a mim, poeta da nossa América,
coroar a tua cabeça com os louros do povo.
Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar.
Cláudia Cabral fez este oportuno comentário sobre o post, no Facebook:
ResponderExcluir"Castro Alves perfeito em defesa da liberdade, muito atual também, os opressores são outros, de outra forma, mas estão aí, ótima lembrança."