quarta-feira, 28 de março de 2012

O humor inteligente perde mais um talento: Millôr Fernandes

Manhã difícil esta do dia 28 de março. Depois da notícia da morte de Adelmide Fonseca, veio a informação do falecimento do jornalista, escritor, humorista, dramaturgo, desenhista e tradutor Millôr Fernandes, ontem, às 21h00, em sua residência, no Rio de Janeiro, vítima de falência múltipla dos órgãos. O corpo será velado amanhã, a partir das 10h00, no cemitério Memorial do Carmo, no Caju, e depois será cremado no Crematório da Santa Casa.
Millôr Fernandes era um gênio e contribuiu muito para “fazer a cabeça” de várias gerações, principalmente a da nossa, que éramos adolescentes nos difíceis anos da ditadura militar e no lançamento do Pasquim, em 1969. No próximo dia 27 de maio, faria 88 anos de idade. Sua saúde estava abalada há alguns anos, chegando a ser internado por duas vezes no ano passado.
Seu nome de nascimento era Milton Viola Fernandes, mas descobriu, aos 17 anos, no cartório, que por um problema de caligrafia fora registrado como Millôr – o corte da letra “t” mais parecia um acento circunflexo. Adotou o nome e ficou conhecido e famoso como Millôr Fernandes. Também existem dúvidas sobre a verdadeira data de seu nascimento. Embora conste em sua carteira o dia 27 de maio de 1924, familiares dizem que nasceu em 16 de agosto de 1923.


No jornalismo, Millôr começou em 1938, na revista Cruzeiro, como contínuo e repaginador. Depois, no início da década de 40, voltaria para contribuir com o sucesso da revista, que chegou a publicar 750 mil exemplares por edição. É dessa época a sua famosa coluna Pif-Paf, que incluía desenhos do autor.
Depois de passar pelo jornal português Diário da Manhã e pela revista Veja, participaria da fundação do jornal O Pasquim, ao lado dos cartunistas Jaguar e Ziraldo e dos jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral. Com um jornalismo crítico e um humor inteligente, o semanário fez sucesso e se consagrou como ferramenta importante na luta pela redemocratização do país.
No teatro, como dramaturgo, Millôr colecionou prêmios e deixou obras antológicas como “Um elefante no caos”, “É...”, “Liberdade, liberdade” (em parceria com Flávio Rangel) e “O homem do princípio ao fim”, entre outras. Como tradutor, deu-nos “Rei Lear”, a moderna “As lágrimas amargas de Petra Von Kant” e o musical “Chorus Line”, entre tantas outras maravilhas.
Millôr vai fazer uma falta impossível de ser calculada. Em compensação, sua obra, inspirada num humor fino, inteligente, carregada de humanismo e de uma visão cética do mundo, vai continuar para sempre incomodando os medíocres, os tiranos e tirando do comodismo todos, até mesmo os que têm capacidade mínima de raciocínio.
Millôr é parte essencial da nossa história cultural. Foi junto com Ademilde Fonseca, muito próximo de Chico Anysio e vai se juntar a toda turma de bambas que andam lá pelas alturas. O Brasil fica mais pobre e mais triste; porém, o Paraíso, esse sim, com certeza, sai fortalecido.
Abaixo, uma pequena amostra de frases geniais de Millôr e um vídeo com um de seus belos poemas.

Algumas frases de Millôr Fernandes:

“Numa vida média de 50 anos, 80 a 100 dias são empregados pelos homens só no ato de fazer a barba. Ignora-se o que as mulheres fazem com esse tempo.”

“O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.”

“O melhor movimento feminino ainda é o dos quadris.”

“O pior casamento é o que dá certo.”

“O poder é o camaleão ao contrário: todos tomam a sua cor.”

“Ontem hoje / E amanhã / O homem o cabelo parte / Parte o cabelo com arte / Até que o cabelo parte.”

“Quando um chato diz: ‘Eu vou embora’, que presença de espírito.”

“Quem mata o tempo não é assassino mas sim um suicida.”

“Roube ainda hoje! Amanhã pode ser ilegal.”

"Esnobar é... exigir café fervendo e deixar esfriar."

"Nos dias quotidianos é que se passam os anos."

"Viva o Brasil, onde o ano inteiro é primeiro de abril."

"As nuvens, meu irmão, são leviandades da criação."



Um comentário:

  1. Meu Deus...tanta gente interessante partindo,acho que é sempre ruim a morte, mas algumas dói mais. E dói tanto que a gente fica relembrando, pensando . Taí o Zecablog para amenizar essas perdas com as boas lembranças . Millôr, divirta todos lá no céu !

    ResponderExcluir