Caetano Veloso foi muito feliz quando compôs os versos de Canto do povo de um lugar. E o nosso amigo e extraordinário fotógrafo Ronaldo Silva, o Ferreirinha, também teve seu momento de rara felicidade e muita inspiração ao captar esse final de tarde em Brasília, cidade do Planalto Central, do Cerrado e dos sonhos de milhões de brasileiros.
O dia é composto de belezas que começam ao nascer do sol e vão até a madrugada, quando apreciamos a suavidade da Lua e das estrelas e podemos adormecer em paz. O fim da tarde tem seu próprio perfil e, aqui em Brasília, em função do horizonte vasto do Planalto Central, das árvores típicas do cerrado e do sol forte de Verão, sempre temos oportunidade de presenciar um espetáculo ímpar, como esse registrado pelo Ronaldo.
Ele também captou, na segunda foto acima, do ano passado, um final de tarde em Brasília em plena estação do Inverno. Dá para perceber, graças ao talento do fotógrafo, que são belezas diferentes, cada uma com perfil próprio.
Isso sem falar nas noites de lua cheia, como a que foi captada pelo Ferreirinha, em que o casal Juscelino e Dona Sarah, sentados em um banco, em frente ao Memorial JK, transmitem aquela eternidade dos casais enamorados nas noites interioranas, embora estejam em pleno coração de Brasília. Fotografia é isso. Poesia pura.
Outro fotógrafo que já andou enriquecendo as páginas desse blog é o jovem Pedro Ventura, com suas belas fotos sobre o eclipse lunar (abaixo) – que acabou me obrigando a escrever uns versos – e o fim de tarde em um dia de Outono (acima), quando o pescador ignora a secura e a fumaça que dominam Brasília, nos meses de agosto e setembro.
O lado lunático da lua
(José Carlos Camapum Barroso)
A escuridão comeu a lua,
Em pleno céu de Brasília.
O homem que vinha pela rua
Nem notou, nem sentiu a mordida.
Então a lua, entristecida,
Meio amuada, meio contida,
Vestiu-se novamente de noiva:
Vagarosamente embranquecida.
São Jorge respirou, aliviado
Podia continuar a batalha
Eterna com o dragão, pela vida.
Os namorados, enternecidos
Beijaram-se aliviados, escondidos...
Temiam que a lua, enegrecida,
Jamais voltasse a produzir luar...
O que fazer pelas ruas, então?
Voltar pra casa, cabisbaixo,
Pro magnetismo da televisão?
- Não, não! Disse a lua constrangida.
- Eis-me aqui, noiva arrependida,
A clarear todas as noites de suas vidas.
E assim passou o eclipse lunar,
Como passa o passo do exibicionista.
E a lua, ainda lenta, continua a vagar...
Deixando a escuridão amortecida.
Neste domingo, de pleno Verão, aniversário do meu filho Jordano, é um bom momento para apreciarmos essas fotos, esses versos, a beleza da música de Caetano Veloso.
Canto do povo de um lugar
Venerando a noite
sonhando com o dia.
Canto do povo de um lugar
Composição: Caetano Veloso
Coral Só Arte
Regência: Gleiziane Pinheiro
Todo dia o sol levanta
E a gente canta
Ao sol de todo dia
E a gente canta
Ao sol de todo dia
Fim da tarde a terra cora
E a gente chora
Porque finda a tarde
Quando a noite a lua mansa
E a gente dançaVenerando a noite
Madrugada, céu de estrelas
E a gente dormesonhando com o dia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário