sábado, 9 de abril de 2011

A globalização e a banalização das tragédias

Pronto. Aconteceu também na Holanda. Um maluco atirou a esmo em um shopping center, lotado, na cidade de Alphen aan den Rijn, bem pertinho da capital Amsterdã. Chega a sete o número de mortos, inclusive crianças. Três pessoas ficaram feridas em estado grave e outras cinco, feridas com menor gravidade.
Essa tragédia ocorre do outro lado do oceano Atlântico, no hemisfério Norte, somente dois dias depois de um ataque semelhante a uma escola do Realengo, no Rio de Janeiro, quando doze adolescentes morreram e outros três ainda se encontram em estado grave.
São acontecimentos que desafiam a nossa inteligência, nossos conhecimentos e principalmente nossa capacidade de compreender, e explicar, o que acontece neste mundo, entre as pessoas que se relacionam.
Somos seres humanos? Ou nos tornamos mais desumanos – no sentido universal concedido à palavra – que os animais? Alguém pode até acrescentar: coitadinhos dos bichinhos... são tão dóceis. Mesmo quando não há docilidade, o que impera no reino animal é o sentido de defesa e autopreservação.
No reino humano, conseguimos, graças à nossa inteligência e consciência, ir além de nos defendermos e lutarmos pela preservação da espécie. Nós, humanos, chamamos tudo isso de civilização. Ainda bem que somos civilizados! Poderia ser bem pior se fôssemos civilizadores.


Rio de sangue
(José Carlos Camapum Barroso)

O sangue viscoso
Que desce escadas
Sobe pelas paredes
Até o quadro-negro
Borra as janelas
Transpõe muros
Atravessa ruas
E escala morros
Fere montanhas
Arranha encostas

Expõe-se ao mundo
Nos braços abertos
Do Cristo, redentor
Do pão, de açúcar
Das praias, abertas
Da cidade, maravilhosa

O sangue é jovem
Não pára de jorrar
Por veias abertas
De um país, livre
De um mundo, novo
De uma Terra, global
Do Universo, infinito

O sangue é forte
Lágrimas apenas
Não o contem
O sangue é jovem
Viscoso e vivo
Afia e desafia
Dores de mães
Do Realengo

O Rio é um mar
Tinto de lágrimas
O Rio é salgado...

4 comentários:

  1. Triste poema, e verdadeiro...o Rio está salgado e rubro, como o mar na melancolia da tarde. As cores do sangue e o sal das lágrimas permeiam essa sim, agora triste baía.....

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  2. E então o que quereis? (Maiakovski/1927 por João Bosco}

    "Fiz ranger as folhas de jornal

    abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

    E logo

    de cada fronteira distante

    subiu um cheiro de pólvora

    perseguindo-me até em casa.

    Nestes últimos vinte anos

    nada de novo há

    no rugir das tempestades.

    Não estamos alegres,

    é certo,

    mas também por que razão

    haveríamos de ficar tristes?

    O mar da história

    é agitado.

    As ameaças

    e as guerras

    havemos de atravessá-las,

    rompê-las ao meio,

    cortando-as

    como uma quilha corta

    as ondas."

    Ah, a poesia e a musica(e os blogs) felizmente estão ai para que possamos atravessar este rio salgado. Os filósofos gostam de dizer que vivemos a era da mediocridade e que após a derrocada do socialismo, sobrou-nos o consumo americano e a defesa ecológica. Será ?
    Infelizmente desde que o mundo é mundo convivemos com a barbárie das mais diversas formas, mas hoje ela adentra nossa sala sem pedir licença. Resta-nos a poesia,a musica, a ética,as amizades e um tempo que não volta mais.
    Beijão. Como sempre estou com saudades de voces

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  3. Meu irmão... e mais.. poeta. Expressando lindamente com palavras,os sentimentos.Embora possa ser de dor...amor...alegria...sempre nas suas poesias,a beleza de traduzir o sentir... ser...saudar...
    Essa poesia, merece uma bela homenagem.

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  4. Dos seus poemas considero esse um dos melhores, nao pelo peso da tragédia, que nos deixou atônitos, mas pela construção e sensibilidade, pela velocidade, pela escolha das palavras na construção dos versos. Muito bem. Parabéns!

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