segunda-feira, 6 de junho de 2011

Eleição em Portugal: os cravos já murcharam?

Mais de 42% dos eleitores portugueses, cerca de 35 milhões de pessoas, não compareceram às urnas nas eleições deste final de semana. Um índice extremamente alto que revela o tamanho da descrença do povo português com a política. Em 1976, a abstenção foi de 15%, crescendo para 40%, em 2009, e agora chegando ao índice de 42,1%, que é recorde histórico.
O Partido Social Democrata (PSD) elegeu o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho com uma margem surpreendente de 38,6% dos votos válidos, superando em 10 pontos percentuais o atual chefe de governo, José Sócrates, do Partido Socialista (PS). Mesmo assim, esse índice é inferior ao de abstenção.
Descrença com a atividade política é sempre muito perigoso. Em tempos de crise, quanto mais participação, maiores são as chances de superação dos problemas de forma mais efetiva e mais justa.
No caso de Portugal, por ser um país irmão, muitos brasileiros residem e trabalham por lá. Eles acabam sendo também vítimas da crise. O desemprego aumenta, a carga horária de trabalho cresce e a remuneração diminui. Um bom número de brasileiros já fala em voltar para o Brasil.
Em sua visita a Portugal, no final do mês de março, acompanhada do ex-presidente Lula, a presidente Dilma Roussef prometeu que o Brasil ajudaria os patrícios a superarem a grave crise econômica. Um dos caminhos, sugerido por Lula, seria o da compra de títulos da dívida portuguesa, o que daria a Portugal condições de ampliar seus investimentos.
Como este blog mostrou em matéria anterior, felizmente, a crise político-econômica e administrativa não atingiu a criatividade da cultura portuguesa, que continua, principalmente na música, com seus fados e canções populares, buscando novos caminhos. O surgimento do grupo Deolinda (para ler, clique aqui), que faz sucesso e está revolucionando a música portuguesa, é um dos principais exemplos desse processo.
A Revolução dos Cravos (fotos acima), de abril de 1974, que tantos sonhos e esperanças trouxe para o povo português, pode não ter se desdobrado no campo econômico e político, inclusive sendo atropelado pela onda neoliberal da União Européia, mas, no campo das artes, com certeza, ainda tem fôlego.
Por tudo isso, mais algumas outras coisas, que tal ouvirmos Chico Buarque cantando as duas versões de Tanto Mar. É verdade que já murcharam a festa portuguesa, mas quem sabe, restou alguma semente por lá. Quem sabe, o sonho não acabou.




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