sexta-feira, 3 de junho de 2011

João Gilberto faz 80 anos no mais absoluto silêncio

João Gilberto (foto) é um dos artistas mais próximos do silêncio que o universo da música já conheceu. João é um baiano de canto macio, suave, com melodias harmoniosas, tranquilas, sem preocupações com o rompante e sem instrumentos barulhentos. Tem um temperamento difícil e atitudes controvertidas, mas o mundo admira seu talento. Ele é, sem dúvida, um dos mais criativos músicos da nossa história musical.
É a síntese e o somatório de cantores de estilo suave, voz bem colocada e muita bossa, que vêm desde Vassourinha, passando por Lúcio Alves, Dick Farney e Mário Reis. Na década de 50, Johnny Alf já mostrava uma harmonia moderna para a época; João Donato lançou um disco, em 1956, chamado “Chá Dançante”, que já trazia uma batida bem diferente; então, chegaram Tom Jobim e Vinícius de Moraes, com muito talento e poesia e a trilha sonora de Orfeu do Carnaval.
João Gilberto surgiu para reunir tudo isso, com muito molho, e fazer nascer a Bossa Nova, que, segundo Tom Zé, inventou o Brasil. Abriu as portas para a música brasileira lá fora e fez brotar uma geração de músicos de extraordinário talento durante a década de 60.
Os três principais discos de João estão fora do mercado: Chega de Saudade (1959), O Amor o Sorriso e a Flor (1960) e João Gilberto (1961). A gravadora britânica EMI reuniu os três bolachões em um CD, que recebeu o nome de “O Mito”. O músico não foi consultado e se indignou com o que ele chamou de fim da “sequência harmônica” das faixas, por causa dos defeitos da remasterização.
João entrou com uma ação, em 1997, contra a gravadora, exigindo que ela não mais pudesse produzir e comercializar sua obra no Brasil e no exterior. Pedia indenização por danos morais, pagamento de royalties e a retirada do CD “O Mito” do mercado. Em 2011, ainda não existe decisão final sobre o caso, que agora depende do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Pronto. Fez-se o silêncio em torno dessa extraordinária obra de um dos mais geniais artistas da música brasileira. Enquanto a decisão não sai, as matrizes estão no Brasil e a gravadora garante que nada foi alterado.
Enquanto todo esse imbróglio não se desenrola, vamos ouvir um pouco de João Gilberto para começar bem o fim de semana. Escolhi um vídeo em que ele canta com Caetano Veloso a antológica Chega de Saudade, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Vamos ouvir, de preferência, no mais absoluto silêncio. João agradece.


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